domingo, 26 de janeiro de 2014

Caixa de bijuterias

Caixa de bijuterias

Era tua cabeça em meu peito
Teu soluço compassando com o pulsado
coração
Era minha mão junto a tua expulsando
medos
Era a coisa mais linda aquele porta-
-retratos
O par de sorrisos de invejar poetas no
estender da lua
Meu pinho teu maior ciúme
Hoje sem valer nem valor, caiu no vão
do esquecimento
Um brinco que brinco de usar, apenas
para fazer valer
A ausência do que se fazia par, na caixa
de bijuterias

sula fagundes

CARUSO - Lucio Dalla

CARUSO - Lucio Dalla

CARUSO - Lucio Dalla


Aqui onde o mar brilha
E sopra forte o vento
sobre um velho terraço
Em frente ao Golfo do Sorreto
Um homem abraça uma mulher
Depois de haver chorado
Depois limpa a voz e recomeça
o canto
Eu te amo tanto, mas tanto, tanto,
sabe?
É uma " corrente" que faz o sangue
Queimar nas veias, sabe? viu as luzes
em alto-mar
Lembrou de noites lá na América
Mas eram só lanternas a brilhar
No rastro branco de uma hélice
Olhou fundo nos olhos da mulher
Aqueles olhos verdes como o mar
Viu escapar uma lágrima e pensou
estar a se afogar...
Eu te amo tanto, mas tanto, tanto
sabe?
É uma " corrente" que faz o sangue
queimar nas veias, sabe?
Que poder é esse da ópera?
Onde todo drama e falso, onde um pouco
de maquiagem e representação
Podemos nos transformar em outro
Mas quando dois olhos te olham assim
Tão perto e verdadeiros te fazem esquecer
as palavras
Confundem teus pensamentos então fica tudo
tão pequeno
Até as coisas lá na América, você se vira
E toda a sua vida no rastro branco de
uma hélice
Mas é isso a vida que termina e ele nem pensou
sobre isso
Ao contrário ele ja se sentia tão feliz
E recomeçou o canto Eu te amo tanto, tanto,
sabe?
É uma " corrente" que faz o sangue queimar
nas
veias sabe?

Poesia

Poesia

Não toque minha pele
Se não souber como arrepia-la
Não me olhe se não souber conduzir-me à
tua varanda
Se não souber onde moram meus desejos
Não caminhe ao meu lado
Se tuas pernas, não controlarem meus
impulsos loucos
Não dance comigo se não souber tremer de
prazer
Não se deite, se não souber onde posso
encaixar-me
Não receba minhas cartas se não souber
responde-las
Não me dê teus lábios se não souber-se
engolida
Se numa noite de amor a mim agasalhar
Souber- me receber
Jamais de desejos morrerias, teu corpo
Sedento, saciado estaria
Se é amor o que de mim pretendas, o pulsar
do meu coração
Já te pertence a tanto e, no entanto, sequer
presumias

sula fagundes

Corre a capoeira

Corre a capoeira

João, José e Maria
Maria embola as saias de alfaias
Na orla do mar em prece heresia
Brancas rosas, para Yemanja das
maresias
Seu perfume, presente encantamento
O qual ganhara da mãe d' água em seu
nascimento
Chora Maria para desespero de Janaína
Yemanja
Joga a capoeira João, luta José
na mesma roda
Pelo amor de Maria
Capoeira, enganadora, se fazia dança

E deveras era luta de amor em poesia
E antes a morte que já principia
Despedaçados corações,de ciúmes e covardia
Deixando ao amor esta discórdia ousadia


Na ginga dos corpos no balanço da cama e
nas ondas do mar
Maria não é de João nem de José, sequer de
si mesma
Maria é menina dos, enciumados, olhos de
Yemanja

sula fagundes

Leio quando posso

Leio quando posso

Observo de fato, o que vejo
Me animo,e nesse ávido animo
Chego a ver o mundo, que supus
um dia
Assistir passar por mim
Mas quem sou eu?
Pobre sonhador entre tantos
Aos quais de alguns, segui o cortejo
Ouvindo a fúnebre marchinha dos
desaparecidos
Mas acreditem, haviam flores de saudades
nas mãos de quase todos
E musas viúvas, junto as moças dos cabarés
Eram um choro só em coro, e entre bandeiras e
bandolins, canções e versetos em panfletos
Se as cabeças e nomes estavam trocados ...
Quem o sabe? Sabe Deus ...
Mas as flores, as lágrimas de amor e poesia
Estavam mais que presentes na, fatídica, hora
da partida

sula fagundes

Mau humor

Mau humor

Passei duas noites inteiras assim

Sonhando que explodia e a cada explosão um susto
Mas um susto daqueles de acordar tremendo
Eu sonhava :
Sonhava que era o mundo, que havia explodido
A cada tentativa de me me agrupar com meus fragmentos que
rodavam perdidos no espaço
Fragmentos esses, que tinham memória(a cada quantidade
de pedacinhos)
Explosão ...Eu explodia
Já não sei bem se eu(enquanto mundo) tentava me refazer
e explodia
Ou as explosões eram necessárias para que eu acordasse como
mundo explodido
Me lembro bem eu meus fragmentos.(eu mundo) Continuava
tentando. Não sei se por conta própria, ou era um juízo celular
Talvez o mundo tenha memoria mesmo, uma especie de DNA
próprio. Coisa para continuar existindo
Mas uma coisa eu sei (eu enquanto mundo) Tentava me refazer
E pasmem! O mundo não quer acabar, segue avante mesmo girando
em torno de si mesmo. Trazendo memórias que o fazem explodir a
casa miserável tentativa
O mundo quer se refazer, talvez não queira acabar Quem sabe já
tenha acabado outras vezes. É bem capaz que venha se purificando
em alguma ideia de perfeição humana
Talvez quem sabe um mundo mais justo exista, dentro de alguns corações
que sonhem e sempre sonharão Com uma sociedade mais justa
Um mundo onde todos vivam com respeito e decência Um mundo
digno de ser chamado de mundo
Não falo de cunho religioso falo de cunho moral politico Falo de
um mundo sem fome sem sede sem preconceitos de nenhuma especie Sem guerras em nome da paz, sem oportunistas malditos
Um mundo de amor e respeito Um mundo que não espere que morram
seus ideologistas e seus bons exemplos para que os encarem em seus
velórios
Digo isto não em nome do mundo que corra em todas as mentes,
em todas as cabeças
O mundo era meu, o sonho era meu a explosão era minha Todas
elas ...
E minha ideia de mundo, de gente, de paz está longe de ser a que
eu tenho assistido
O mundo, que eu venho assistindo está explodindo sem que eu possa
fazer nada
As explosões eram minhas e eu sinceramente, SOFRI, Não consegui ter
um sono decente
Vou tentar dormir, quem sabe eu não exploda ou exploda, e renasça enquanto mundo melhor (meu) e não os venha mais

sula fagundes

O que diriam os acalantos

O que diriam os acalantos
Com tal desencanto em versos tolos

Por vezes, volúpias de ferver o sangue nas
veias

Se sem motivos aparente, a mágoa de tão
presente

Teima em adentrar meu cômodo ímpar

Minha cama quente e travesseiros de dar

pena, o pouco uso

Versos gelados de pavor, fome e dor

Um perfume diferente que exala a cada hora
em versos livres

Indignadas sobre a mesa posta, para dois

Um resto de lembranças guardadas na lembrança

Minha voz rouca os lê com a mesma fome
dos meus vinte anos

sula fagundes

MARIA BETHANIA e JEANNE MOREAU " POEMA DOS OLHOS DA AMADA "

Poema dos olhos da amada

MARIA BETHANIA e JEANNE MOREAU
Poema dos olhos da amada
Vinicius de Moraes

Ô bien-aimée, quels yeux tes yeux
Embarcadères la nuit, bruissant de mille adieux
Des digues silencieuses
Qui guettent les lumières
Loin… si loin dans le noir
Ô bien-aimée, quels yeux… tes yeux
Tous ces mystères dans tes yeux
Tous ces navires, tous ces voiliers
Tous ces naufrages dans tes yeux
Ô ma bien-aimée aux yeux païens
Un jour, si Dieu voulait
Un jour… dans tes yeux
Je verrais de la poésie, le regard implorant
Ô ma bien-aimée, quels yeux… tes yeux

Ó minha amada
Que olhos os teus
São cais noturnos
Cheios de adeus
São docas mansas
Trilhando luzes
Que brilham longe
Longe dos breus...
Ó minha amada
Que olhos os teus
Quanto mistério
Nos olhos teus
Quantos saveiros
Quantos navios
Quantos naufrágios
Nos olhos teus...
Ó minha amada
Que olhos os teus
Se Deus houvera
Fizera-os Deus
Pois não os fizera
Quem não soubera
Que há muitas era
Nos olhos teus.
Ah, minha amada
De olhos ateus
Cria a esperança
Nos olhos meus
De verem um dia
O olhar mendigo
Da poesia
Nos olhos teus.

Fabrizio De Andrè Live - Bocca di rosa

Bocca di rosa

Autor: Fabrizio de Andrè - 1967


Bocca di rosa



La chiamavano Bocca di rosa,
metteva l'amore, metteva l'amore,
la chiamavano Bocca di rosa,
metteva l'amore sopra ogni cosa.

Appena scese alla stazione
del paesino di Sant'Ilario,
tutti si accorsero con uno sguardo
che non si trattava di un missionario.

C'è chi l'amore lo fa per noia,
chi se lo sceglie per professione,
Bocca di rosa, né l'uno né l'altro,
lei lo faceva per passione.

Ma la passione spesso conduce
a soddisfare le proprie voglie,
senza indagare se il concupito
ha il cuore libero oppure ha moglie.

E fu così che, da un giorno all'altro,
Bocca di rosa si tirò addosso
l'ira funesta delle cagnette
a cui aveva sottratto l'osso.

Ma le comari d'un paesino
non brillano certo in iniziativa,
le contromisure fino a quel punto
si limitavano all'invettiva.

Si sa che la gente dà buoni consigli
sentendosi come Gesù nel tempio,
si sa che la gente dà buoni consigli
se non può più dare cattivo esempio.

Così una vecchia, mai stata moglie,
senza mai figli, senza più voglie,
si prese la briga, di certo il gusto,
di dare a tutte il consiglio giusto.

E rivolgendosi alle cornute
le apostrofò con parole argute:
"Il furto d'amore sarà punito -
disse - dall'ordine costituito".

E quelle andarono dal commissario
e dissero senza parafrasare:
"Quella schifosa ha già troppi clienti,
più di un consorzio alimentare".

E arrivarono quattro gendarmi
con i pennacchi, con i pennacchi,
e arrivarono quattro gendarmi
con i pennacchi e con le armi.

Il cuore tenero non è una dote
di cui sian colmi i carabinieri,
ma quella volta a prendere il treno
l'accompagnarono malvolentieri.

Alla stazione c'erano tutti,
dal commissario al sacrestano,
alla stazione c'erano tutti
con gli occhi rossi e il cappello in mano.

A salutare chi per un poco,
senza pretese, senza pretese,
a salutare chi per un poco
portò l'amore nel paese.

C'era un cartello giallo
con una scritta nera,
diceva "Addio Bocca di rosa,
con te se ne parte la primavera".

Ma una notizia un pò originale
non ha bisogno di alcun giornale,
come una freccia dall'arco scocca,
vola veloce di bocca in bocca.

E alla stazione successiva
molta più gente di quanta partiva,
chi mandò un bacio, chi gettò un fiore,
chi si prenota per due ore.

Persino il parroco che non disprezza,
fra un miserere e un'estrema unzione,
il bene effimero della bellezza,
la vuole accanto in processione.

E con la Vergine in prima fila
e Bocca di rosa poco lontano,
si porta a spasso per il paese
l'amore sacro e l'amor profano.
Tradução

A chamavam Boca de rosa,
punha o amor, punha o amor,
a chamavam Boca de rosa,
punha o amor acima de qualquer coisa.

Apenas desceu na estação
da cidadezinha de Sant'Ilario,
todos repararam com uma olhada
que não se tratava de um missionário.

Há quem o amor o faz por tédio,
quem o escolhe por profissão,
Boca de rosa, nem um nem outro,
ela o fazia por paixão.

Mas a paixão muitas vezes leva
a satisfazer os próprios desejos,
sem investigar se o cobiçado
tem o coração livre ou tem esposa.

E foi assim que, de um dia para outro,
Boca de rosa atirou sobre si
a ira funesta das cadelinhas
a quem havia subtraído o osso.

Mas as comadres de um vilarejo
não brilham de certo por iniciativa,
as contra medidas até aquele ponto
se limitavam à invectiva.

Sabe-se que as pessoas dão bons conselhos
sentindo-se como Jesus no templo,
sabe-se que as pessoas dão bons conselhos
se não podem mais dar mal exemplo.

Assim uma velha, que nunca foi esposa,
sem filhos, sem mais desejos,
pegou a decisão, certamente com gosto,
de dar a todas o conselho certo.

E dirigindo-se às chifrudas
lhe falou com palavras argutas:
"O furto de amor será punido -
disse - pela ordem constituída".

E aquelas foram do comissário
e disseram sem parafrasear:
"Aquela nojenta tem já demais clientes,
mais do que um consorcio alimentar".

E chegaram quatro carabineiros
com os penachos, com os penachos,
e chegaram quatro carabineiros
com os penachos e com as armas.

O coração tenro não é uma qualidade
da qual sejam dotados os carabineiros,
mas aquela vez a pegar o trem
a acompanharam a contragosto.

Na estação estavam todos,
do comissário até o sacristão,
na estação estavam todos
com os olhos vermelhos e o chapéu na mão.

A despedir-se de quem por um pouco,
sem pretensões, sem pretensões,
a despedir-se de quem por um pouco
trousse o amor no vilarejo.

Havia um cartaz amarelo
com uma escrita preta,
dizia "Adeus Boca de rosa,
contigo vai embora a primavera".

Mas uma noticia um pouco original
não precisa de nenhum jornal,
como uma seta que o arco arremessa,
voa veloz de boca em boca.

E na estação sucessiva
muita mais gente de quanta partia,
quem mandou um beijo, que jogou uma flor,
quem fez a reserva por duas horas.

Até o pároco que não despreza,
entre um miserere e uma extrema unção,
o bem efêmero da beleza,
a quer ao seu lado na procissão.

E com a Virgem na primeira fila
e Boca di rosa pouco distante,
leva a passeio pela cidadezinha
o amor sagrado e o amor profano.

Bocca di rosa

Bocca di rosa



"Ma la passione spesso conduce
a soddisfare le proprie voglie,
senza indagare se il concupito
ha il cuore libero oppure ha moglie.

E fu così che, da un giorno all'altro,
Bocca di rosa si tirò addosso
l'ira funesta delle cagnette
a cui aveva sottratto l'osso.

Ma le comari d'un paesino
non brillano certo in iniziativa,
le contromisure fino a quel punto
si limitavano all'invettiva.

Si sa che la gente dà buoni consigli
sentendosi come Gesù nel tempio,
si sa che la gente dà buoni consigli
se non può più dare cattivo esempio.

Così una vecchia, mai stata moglie,
senza mai figli, senza più voglie,
si prese la briga, di certo il gusto,
di dare a tutte il consiglio giusto."

Autor: Fabrizio de Andrè


Trecho de Poema


Gravuras

Gravuras

Minha cidade te espera
Meus braços cansados de tão
apostos
Meus olhos no fundo de tantos
horizontes
Retive teu riso imaginário
Em cada vez que abri a porta
Achando que chegavas entre
sonhos e poesia
Esperei na varanda mil carteiros
Meu cartão postal escrito a punho
De vez enquanto a vida me flagra
Olhando as mesmas gravuras
As cartas que jamais receberia
A saudade queimando é do o beijo que
nunca pude roubar
Os sonhos nas impossibilidades de
um riso escrito
Um pequeno rio, uma extensa ponte
Onde sonhando, trafegam os poetas
São cidades de risos cansados
E braços carregados de abraços nas
portas que o vento abre
Adentra e repousa o perfume, nascente
de versos

sula fagundes

Meu caminhar

Meu caminhar 

Se o modo de seguir dobrasse
a esquina, de modo reto
E se a paciência desacelerasse
A maneira do tempo correr mais lento
Se as estrelas do mar brilhassem
no céu 
A madrugada passasse na palma de minha
mão
Lindos sonetos de encantar a amada...
Deixaria mil cartas de amor, em respostas



E eu, temendo, tremendo de febre por amor
e paixão 
Que não era de ser minha, me dizia a lua
descrente ...
Sem estrelas, acreditar seria o ato mais nobre
sobre o véu
Véu que era o mais caro e raro espetáculo
Amar sem a menor faísca de esperança

Maneira de acordar poeta torturando seu sentir
Sentimento é o que veste e despe seu corpo
Partindo na partitura qualquer canção que pudesse
compor
Deus! gritei eu ,bebendo todo vinho 
Secando as taças da adega entre as saias
Eu amando mais que eu pudesse supor suportar
Deitei-me nas camelas fundas, a tentar lavar levar
de mim
Torturado desalento
Varrer tal desconforto, com tal desgosto pensei...
Confesso, por muitas vezes, desligar-me da vida 
Mudar-me para o mundo onde nasce, cresce e vive a
poesia 

sula fagundes