sexta-feira, 21 de junho de 2013

Odeio os Indiferentes -Antonio Gramsci, 11 de fevereiro de 1917

Odeio Os Indiferentes

Creio que viver queira dizer ser partidário.
Quem vive de verdade não pode não ser cidadão e partidário.
A indiferença é abulia, é parasitismo, é covardia, não é vida. 
Por isso, odeio os indiferentes.
A indiferença é o peso morto da história.
A indiferença opera poderosamente na história.
Opera passivamente, mas opera.
É a fatalidade;
é aquilo sobre o que não se pode contar;
é aquilo que atrapalha os programas,
que derruba os planos melhor construídos;
é a matéria bruta que estrangula a inteligência.
Aquilo que acontece,
o mal que se abate sobre todos,
acontece porque a massa dos humanos
abdica da sua vontade,
deixa promulgar leis que só a revolta poderá revogar,
deixa subir ao poder homens
que, depois, só uma revolta poderá derrubar.
Entre o absenteísmo e a indiferença, poucas mãos,
não vigiadas por nenhum controle,
tecem a teia da vida coletiva,
e a massa ignora,
porque não se preocupa com ela;
e então parece ter sido a fatalidade que investiu contra tudo e todos,
parece que a história não seja nada
além de um enorme fenômeno natural,
uma erupção, um terremoto
do qual todos se tornam vítimas,
quem quis como quem não quis,
quem sabia e quem não sabia,
quem tinha sido ativo e quem indiferente.
Alguns choramingam piedosamente,
outros blasfemam obscenamente,
mas ninguém ou poucos se perguntam:
seu eu também tivesse feito o meu dever,
se eu tivesse procurado fazer valer minha vontade,
teria acontecido o que aconteceu?
Odeio os indiferentes também por isso:
porque me incomoda o seu choramingo
de eternos inocentes.
Quero saber de cada um deles
como desenvolveram a tarefa que a vida lhes colocou
e lhes coloca quotidianamente,
daquilo que fez e, especialmente, daquilo que não fez.
E sinto poder ser inexorável,
de não ter que desperdiçar minha piedade,
de não ter que compartilhar com eles as minhas lágrimas.
Vivo, sou partidário.
Por isso odeio quem não participa,
odeio os indiferentes."

Antonio Gramsci, 11 de fevereiro de 1917


Nenhum comentário:

Postar um comentário